Água

A gente se perde nos detalhes

não é de supetão que os relacionamentos terminam

o término começa quando os olhares param

Você olha pro meu rosto enquanto eu falo, olha quando eu peço para a avaliar a minha roupa

mas colocar os seus olhos sob mim não é o mesmo que me enxergar

Digo que sinto sede, você traz água

pego o copo e te entrego

você serve

e bebe

Você trouxe a água

 eu pensei que era por eu estar com sede

Beijinho pra sarar

Completamente partida em pedaços pequenos demais para remendar 

E seguir

Dormir é a única forma de esquecer

Quando acordo é dor e vazio

O dia segue com o sol rachando sob os corações partidos e as almas avoadas

Iluminando o que a gente tanto quer esquecer

Preciso esconder a vontade de me guardar dentro de mim

E me isolar até a solidão me curar

O perdão e a dor da decepção, como os dois podem trabalhar juntos para me tirar dessa fossa?

Como o amor vai vencer no meio de tanta conturbação?

Quando a gente cresce, quem responde os nossos por quês? Quem beija a nossa ferida quando dói, e diz que passou?

O caminho, a verdade e a vida

Me deram a decisão: seguir o caminho e conhecer a verdade

A verdade era a vida

E eu só a via como morte

A morte aos prazeres, morte às gargalhadas, morte ao excesso

Eu decidi fugir da verdade, e fui acolhida pela mentira

O que não estava claro é que quem te acolhe pelos motivos errados, te mantém no vício do conforto momentâneo

A mentira que me dava segurança, era a mesma que arrancava a minha alma aos poucos do meu corpo

Você sabe que está perdendo o espírito quando a sua mente pede pelo abandono eterno, e todos os dias o vazio impossível de ser preenchido, vai tomando conta de mais uma parte de ti

Eu senti vergonha por estar viva

Estar viva significava que a verdade existia, e que ela era benevolente até com as pessoas más

Receber o que não merece é completamente desconfortante, e quando você reconhece que é indigno e recebe da vida o presente de respirar e ter forças para renascer

É vergonhoso

É vergonhoso por você ter se esforçado tanto para auto mutilar o corpo e toda a luz que ali habitava

É vergonhoso notar toda a degradação existente em si

Toda a minha vergonha foi acolhida pela verdade que me libertou, e eu pude ver que liberdade é ausência de amarras

Liberdade é fazer escolhas que jamais vão te aprisionar ou envergonhar

Toda a minha vergonha foi dada pelo recebimento da graça divina, tamanha graça que diariamente reconstrói tudo o que eu permiti que fosse retirado e manchado em mim. 

Maremoto

Faz alguns dias que o céu derrama suas águas sob nós, os dias ficaram mais frios, a noite chega mais cedo, é gostoso sentir a mudança do clima.

Aprecio estações, a ausência da inércia e o brilho do novo.

O problema mais grave em toda a tempestade é que ela traz a tona o mais sombrio da consciência, tudo o que fugimos em dias claros de sol nos assombram quando ele se vai. Não é que eu ame o sol porque tenho muito que esconder, mas talvez essa seja mais uma afirmação motivada pela falta de vontade de assumir que sou covarde.

Escondo em dias ensolarados tua ausência, corro pro mar por ser o meu único refugio, não deixo a minha mente se aquietar e me mostrar que estar não é ser.

Tudo o que tu me mostra é belo, me diz que vai chegar e o calor se apossa do meu corpo. Diz que tem saudade e o meu coração fraco se enche de dopamina e torna o batimento acelerado.

Sou mutável como o mar, nunca calmo, sempre profundo.

Sou tão inteira que quando tu me diz ser meu, custo acreditar que exista espaço pra alguém nessas águas tão inóspitas.

Tenho certezas tão incertas de memórias apagadas pela minha falta de coragem em aceitar a realidade. Cada passo para dentro é um passo para trás, eu te trouxe para tão longe que não entendo como conseguiu permanecer, tu ainda luta pra nadar nas minhas tempestades, e quando surge o sol tu boia tão bonito, me faz de lar.

Você é perola, eu sou ostra, me machuco e tu fica lindo. 

Mas faz questão em me contar que sou melhor do que penso, sem saber me apresenta um mundo menos crítico, mais simples e com mais risadas, fala pra mim que preocupação é passageira e desenha a solução nas constelações. Tu é pureza no meio de tanta maldade, é oxigênio que mata nossas células, mas nos mantém vivos.

Foi tu que me mostrou que amor é convivência, é maturidade, é palavra sem poema quando se quer falar da dor, o problema é que nasci com essa mania poética de romantizar as dores e falar de forma embaralhada, dizer tudo sem dizer nada, querer que me leiam nas entrelinhas.  Mas com você... com você eu aprendo que o poema é para leitores não para quem veio trazer a cura. Te escrevo sabendo que é para mim todas essas palavras.

Veneno neuronal

Eu detesto quando as noites são longas e pesadas, torço pro sol nascer num segundo
Preciso controlar a minha mente, mas ela não me obedece, ela me controla
Controlo o ar, deixo entrar trazendo paz e sair levando a inquietação
Bobagem, logo ela me sabota, penso nele
Jogo sujo
Assumo que o amo e a insegurança volta
Eu avisei que era cilada
Penso tanto que me permito escrever, em outro caso estaria esmagando pensamentos
Um sob o outro
Aleatoriamente
Até me afundar
Acalma
Escreve e tudo se organiza
As palavras você consegue controlar e consertar
É o que você sabe fazer
Usar as palavras
Soltar as dores
Quando finalmente a paz retorna
Já disse tudo sem ao menos dizer metade
Eu sei
Me vou
Porque aqui me curei
Mas volto porque sou tóxica

chave da alma

De mansinho me mostra

soltando palavras doces que

pra você obvias

é essa tua visão de mim

é essa minha visão de ti

sereno

com olhos da inocência de quem nasceu ontem

com a alma de quem tanto percorreu

faça um pedido!

Eu queria saber o que você pensa quando olha no fundo dos meus olhos. O que vê quando eu sorrio e digo que a vida é uma só e deve ser vivida ao máximo. O que sente quando eu toco nos seus braços e digo "vamos, tá tudo bem".
Consegue ver que morri faz 4 meses? Não exija de mim ser quem fui, já não sou mais e nem poderei ser o que fui. O quer era se desfez em pedaços. O que é, é duvida, decepção. É dor. É pranto. É fuga. É desespero. Não é um grito de socorro, não venha me socorrer. Pelo amor que tenha a mim, me deixe em paz.
Amanhã soprarei uma vela e farei um pedido, que bom seria se o fogo apagado da vela realmente fosse um desejo sendo levado ao universo e realizado, se assim fosse, pediria para renascer. Ser viva novamente, ser leve, única, ser folha branca, sem rabiscos, sem cortes, sem dores. Ai como eu queria apagar a vela e me ter de volta.
Como comemorar algo que não tenho o que comemorar, como ver amor quando em mim só há dor? Como sorrir se o meu corpo todo dói o desespero de ansiar pelo choro contido?